Mais de 30 pessoas aguardam cirurgias na emergência do Sistema Único de Saúde (SUS) do Instituto de Cardiologia de Porto Alegre. Conforme o hospital, falta dinheiro para a aquisição de dispositivos como o marca-passo, um dos mais esperados. “Toda conduta cardiológica precisa de dispositivos, é o nosso dia a dia. E o que está acontecendo com esses dispositivos? Quase todos eles têm um preço em dólar e são importados”, explica a representante médica do grupo de Comunicação do hospital, Miriana Basso Gomes, que destaca aumento nos preços com a situação econômica mundial.
A preocupação com o orçamento do hospital é ainda maior, porque quase 70% dos atendimentos são realizados pelo SUS e 17% pelo IPE Saúde e tanto o sistema público, como o convênio do Estado estão com as tabelas defasadas, segundo a médica. “O paciente interna e, se ele tem que colocar, por exemplo, um cardiodesfribilador com marca-passo junto, o custo só do aparelho, sem falar em anestesia, médico, enfermagem, é R$ 50 mil. O que o SUS paga? R$ 18.542,00”, enfatiza Miriana.
A artesã Noeli Docelíria Prestes, de 64 anos, é uma das pacientes que aguarda por uma cirurgia. Há 32 dias, deixou a casa em Sapucaia do Sul e ficou internada. “Eu baixei aqui, porque me deu, em casa, um apagão, eu caí e bati com a cabeça”, conta. Após exames, os médicos indicaram a necessidade de um marca-passo. Noeli teve outros dois desmaios no hospital e, enquanto o dispositivo não chega, o marido Mário Jurandir de Abreu Prestes, de 68 anos, diz que a preocupação é diária. “Ela tem esses apagões e reage. Vamos supor que dê e não tenha volta. O que acontece? É só lamentar”, desabafa.
Miriana se emociona ao contar que a equipe médica também está consternada com a possibilidade de perder pacientes ou ter que suspender novas internações. “A gente acredita ainda que a saúde é um direito de todos”, afirma a cardiologista. Além de reivindicar a atualização das tabelas de valores repassados pelo SUS e pelo IPE Saúde, o apelo é para que o empresariado gaúcho invista no local, que é uma das referências em Cardiologia para o Estado. Além disso, Miriana pede que a população que precisa de atendimento médico por convênios do setor privado procure atendimento no Instituto de Cardiologia, pois esses procedimentos seguem ocorrendo normalmente e os valores pagos pelos planos de saúde contribuem com o atendimento do SUS. Quem quiser ajudar o hospital, fazendo doação em dinheiro pode utilizar o pix da instituição 92.898550/0001-98.
Kyane Sutelo
Correio do Povo